Taxonomic Notes
Descrita em: Brittonia 56(4), 307, 2004. Malouetia amazonica é distinguida pelas folhas geralmente menores e mais oblongas que secam com um tom avermelhado nas duas superfícies e a corola uniformemente branca com os lóbulos densamente puberulento na face adaxial (Endress, 2004).
Justification
Árvore de até 8 m, endêmica do Brasil (Endress, 2004; Flora do Brasil, 2020), foi documentada exclusivamente em Floresta de Igapó associada à Amazônia presente no estado do Amazonas, municípios de Manaus e Presidente Figueiredo. Apresenta distribuição conhecida restrita, extensão de ocorrência (EOO) de 2978 km², área de ocupação (AOO) de 24 km² e quatro situações de ameaça, considerando-se a escala, intensidade e cronologia de vetores de estresse antrópicos incidentes na extremidades de seu EOO, e considerando o estado de proteção in situ da espécie em cada localidade de ocorrência confirmada. A Amazônia brasileira possuía, em 2014, 1,3% de sua extensão convertidos em áreas agrícolas (TerraClass, 2020). A implantação da Zona Franca de Manaus, onde a espécie possui ocorrência confirmada, representou e representa frente de expansão de impactos ambientais à região, como desmatamento para o estabelecimento de infraestruturas viárias e industriais (Nogueira et al., 2007). Manaus foi, dentre os municípios mais populosos do Brasil, o que apresentou a maior taxa média geométrica de crescimento populacional anual (Nogueira et al., 2007). Tal taxa de expansão demográfica representa aumento na incidência de vetores de estresse a partir do estabelecimento de conjuntos habitacionais (Nogueira et al., 2007). Presidente Figueiredo é atravessado pela rodovia BR-174 (Manaus - Caracaraí), frente de expansão do desmatamento, da agricultura e da pecuária, ocasionados a partir do estabelecimento destas rodovias e de conjuntos habitacionais. Além disso, encontra-se neste município uma importante jazida mineral de cassiterita localizada na sub-bacia do rio Pitinga, considerada a maior jazida de cassiterita do mundo e explorada desde 1981 (ICMBio, 1997). A Usina Hidrelétrica de Balbina também situa-se em Presidente Figueiredo, sendo considerada uma das maiores do Brasil em relação a áreas inundadas (Eletronorte e IBAMA, 1997). Mesmo com ocorrência confirmada em áreas protegidas, em sua maioria de uso sustentável, sabe-se que atividades ilegais de grande impacto são constantemente desenvolvidas na maior parte das Unidades de Conservação da Amazônia (Kauano et al., 2017). Diante deste cenário, portanto, infere-se o declínio contínuo em EOO, AOO, extensão e qualidade de habitat e no número de situações de ameaça. Assim, Malouetia amazonica foi considerada Em Perigo (EN) de extinção nesta ocasião.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020), com distribuição: no estado do Amazonas — nos municípios Manaus e Presidente Figueiredo.
Population Information
Não existem dados populacionais.
Habitat and Ecology Information
Árvore de até 8 m de altura (Endress, 2004), associada à Amazônia, ocorrendo em Florestas de Igapó (Flora do Brasil, 2020).
Threats Information
Com uma alta densidade demográfica (41 habitantes por hectare), na zona Norte de Manaus o crescimento populacional tem sido o principal responsável pela degradação ambiental que a mesma vem sofrendo. A construção de conjuntos habitacionais pelo poder público e privado é um dos principais responsáveis pelo desmatamento verificado nos últimos 18 anos. Mas sua proximidade com a Reserva Adolpho Ducke causa uma grande preocupação, pois os estudos mostram que a Reserva sofre grande pressão devido ao surgimento cada vez mais intenso de ocupações irregulares em seu entorno (Nogueira et al., 2007). O crescimento urbano de Manaus foi o maior da região Norte, sendo considerada hoje o 12º maior centro urbano do país, e uma metrópole regional, com 1.644.690 habitantes. Nos últimos dez anos, Manaus, foi dentre os municípios mais populosos do Brasil, o que apresentou a maior taxa média geométrica de crescimento anual (Nogueira et al., 2007). Nas últimas quatro décadas, o Brasil tem aumentado a sua produção e a produtividade agrícola de larga escala, com destaque para as commodities, cujas exportações cresceram consideravelmente nas últimas décadas (Gasques et al., 2012, Martorano et al., 2016, Joly et al., 2019). As estimativas realizadas para os próximos dez anos são de que a área total plantada com lavouras deve passar de 75,0 milhões de hectares em 2017/18 para 85,0 milhões em 2027/28 (MAPA, 2019). A Amazônia brasileira, com 330 milhões de hectares, possuía, em 2014, 4.337.700 ha (1,3%) de sua extensão convertidos em áreas agrícolas (TerraClass, 2020). Outra estimativa realizada em 2018, registrou 5.488.480 ha (1,6%) (MapBiomas, 2020) da Amazônia brasileira convertidos em áreas agrícolas. Em 2019, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas na região Norte foi estimada em ca. 9.807.396 kg (IBGE, 2020). Apenas em abril de 2020, foram produzidos ca. 10.492.007 kg desses produtos agrícolas, o que representou um incremento de 7% em relação à produção anual do ano anterior (IBGE, 2020). A produção de soja é uma das principais forças econômicas que impulsionam a expansão da fronteira agrícola na Amazônia brasileira (Fearnside, 2001, Simon e Garagorry, 2005, Nepstad et al., 2006, Vera-Diaz et al., 2008, Domingues e Bermann, 2012, Charity et al., 2016). Segundo o IBGE (2020), na região Norte, em 2019, a produtividade da soja na região Norte foi de ca. 5.703.702 kg, enquanto em abril de 2020, já foram produzidos ca. 6.213.441 kg, representando um incremento de 8.9% em relação à produção anual do ano anterior (IBGE, 2020). Em abril de 2020, a cultura de soja foi responsável por 59,2% de toda produtividade agrícola na região Norte, seguida pelo milho, com 30,1% (IBGE, 2020). A soja é mais prejudicial do que outras culturas, porque estimula projetos de infraestrutura de transporte de grande escala que levam à destruição de habitats naturais em vastas áreas, além daquelas já diretamente utilizadas para cultivo (Fearnside, 2001, Simon e Garagorry, 2005, Nepstad et al., 2006, Vera-Diaz et al., 2008, Domingues e Bermann, 2012). A produção de carne e de leite tem crescido consideravelmente no Brasil nas últimas décadas, atingindo, em 2018-19, ca. 26 milhões de toneladas e 34,4 bilhões de litros, e a previsão oficial é de que ambas atividades deverão crescer, respectivamente, a uma taxa anual de 3,0% e a entre 2,0 e 2,8% nos próximos 10 anos (MAPA, 2019). Na Amazônia brasileira, ocorrem desmatamentos para criação de gado em grande escala (Joly et al., 2019). Com ca. 330 milhões de hectares, a Amazônia brasileira possuia, em 2014, 42.427.000 ha (12,8%) de sua extensão convertidos em pastagens (TerraClass, 2020). Em 2018, as pastagens já ocupavam entre ca. 46.209.888 ha (14%) (Lapig, 2020) e 53.431.787 ha (16,1%) (MapBiomas, 2020). Aproximadamente 60-62% de todas as terras desmatadas na Amazônia brasileira são cobertas por pastagens, colocando a criação de gado em evidência como um dos principais impulsionadores do desmatamento (Almeida et al., 2016, Carvalho et al., 2020). Fora o impacto causado pela conversão de áreas, vários estudos com foco na ocorrência de incêndios no Brasil destacam que, atualmente, a Amazônia e o Cerrado apresentam os maiores números de eventos de incêndios relacionados principalmente a práticas de conversão da vegetação natural em pastagem, o que gera outros impactos diretos relacionados às atividades pecuárias (Davidson et al. 2012, MCTI 2016, Joly et al., 2019). No município de Presidente Figueiredo a pecuária encontra-se em desenvolvimento, com perspectivas de aumento futuro, particularmente a criação de bovinos. A área ocupada pela agropecuária situa-se ao longo das estradas BR-174, AM240, onde estão implantadas diversas fazendas e com uma predominância de pastagens, e ao longo das vicinais, onde se pratica predominantemente atividades agrícolas (ICMBio, 1997). No município Presidente Figueiredo encontra-se uma importante jazida mineral de cassiterita localizada na sub-bacia do rio Pitinga. Considerada a maior jazida de cassiterita do mundo é explorada desde 1981 pela Mineração Taboca, do Grupo Paranapanema, de onde provém a maior parte da arrecadação de tributos do município. Esta mineração possui uma área de concessão de 122000 ha, dos quais 5 a 6% são explorados com lavra ou infraestrutura, em 1995 está área era de aproximadamente 7728 ha, não considerando o reservatório da UHE Pitinga (ICMBio, 1997). O chorume gerado do aterro sanitário da cidade de Manaus, contem alta concentração dos metais pesados (Zn, Co, Ni, Cu, Fe, e Pb). Este chorume contamina os corpos hídricos da Bacia do Tarumã-Açu causando impacto ambiental. Segundo Santana e Barroncas (2007) a alta concentração destes metais pesados está muito acima dos valores permitidos pela resolução 357/2005 do CONAMA.
Use and Trade Information
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.
Conservation Actions Information
A espécie foi registrada nas seguintes Unidades de Conservação: Área de Proteção Ambiental de Presidente Figueiredo - Caverna do Maroaga (US), Área de Proteção Ambiental Margem Esquerda do Rio Negro-Setor Aturiá-Apuauzinho (US), Parque Nacional de Anavilhanas (PI), Reserva Biológica do Uatumã (PI), Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista (US). Recomendam-se ações de pesquisa (busca por novas áreas de ocorrência, censo e tendências populacionais, estudos de viabilidade populacional) e conservação (Plano de Ação, busca pela espécie em áreas protegidas com habitat potencial) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois as pressões verificadas ao longo de sua distribuição podem ampliar seu risco de extinção.