Taxonomic Notes
Descrita em: Notizbl. Bot. Gart. Berlin-Dahlem 10, 1037, 1930.
Justification
Árvore de até 10 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020), foi registrada exclusivamente em Floresta de Igapó associada a Amazônia presente no estado do Pará, municípios de Abaetetuba, Almeirim, Altamira, Melgaço, Muaná, Óbidos e Oriximiná, e possivelmente no estado do Acre. Apresenta distribuição ampla, porém exclusiva a formações florestais associadas a cursos d'água e sujeita a regimes de inundação periódicos, área de ocupação (AOO) de 28 km² e quatro situações de ameaça, considerando-se a escala, intensidade e cronologia de vetores de estresse antrópicos incidentes na extremidades de sua extensão de ocorrência (EOO) e nos municípios em que foi registrada. Aproximadamente 60-62% de todas as terras desmatadas na Amazônia brasileira são cobertas por pastagens, colocando a criação de gado em evidência como um dos principais impulsionadores do desmatamento (Almeida et al., 2016, Carvalho et al., 2020). No Pará, particularmente em sua porção sul, há desmatamentos para criação de gado em grande escala (Joly et al., 2019). Além disso, atualmente, a Amazônia e o Cerrado apresentam os maiores números de eventos de incêndios relacionados principalmente a práticas de conversão da vegetação natural em pastagem, o que gera outros impactos diretos relacionados às atividades pecuárias (Davidson et al. 2012, MCTI, 2016, Joly et al., 2019). O equivalente a 100 milhões de árvores foram desmatadas na Bacia do Xingu em apenas seis meses, e a pressão por novas áreas para a expansão agropecuária, grilagem de terras, retirada ilegal de madeira e a expansão do garimpo provocaram a derrubada de 70 mil hectares de floresta no Pará e Mato Grosso, sem sinais de diminuição (Harari, 2018). Mesmo com ocorrência confirmada em áreas protegidas, em sua maioria de uso sustentável, sabe-se que atividades ilegais de grande impacto são constantemente desenvolvidas na maior parte das Unidades de Conservação da Amazônia (Kauano et al., 2017). A Bacia do Rio Trombetas, localizada no município de Oriximiná, onde a espécie é encontrada, apresenta grande potencial hidrelétrico, sofrendo grande influência do governo federal, que prevê em seu Plano Nacional de Energia a exploração dos rios Trombetas e Erepecuru para fins de geração de energia hidrelétrica (Andrade, 2011). Tais projetos somam-se a já marcante presença da maior área de mineração de bauxita do planeta (Andrade, 2011; Lapig, 2020), que modifica de forma drástica a vegetação natural da região. Diante deste cenário, portanto, infere-se o declínio contínuo em extensão e qualidade de habitat e no número de situações de ameaça. Assim, Malouetia lata foi considerada Em Perigo (EN) de extinção nesta ocasião.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020), com distribuição: no estado do Pará — nos municípios Abaetetuba, Almeirim, Altamira, Melgaço, Muaná, Óbidos e Oriximiná e possivelmente no estado do Acre.
Population Information
Não existem dados populacionais.
Habitat and Ecology Information
Árvore de até 10 m de altura, associada à Amazônia, ocorrendo em Florestas de Igapó (Flora do Brasil, 2020).
Threats Information
A produção de carne e de leite tem crescido consideravelmente no Brasil nas últimas décadas, atingindo, em 2018-19, ca. 26 milhões de toneladas e 34,4 bilhões de litros, e a previsão oficial é de que ambas atividades deverão crescer, respectivamente, a uma taxa anual de 3,0% e a entre 2,0 e 2,8% nos próximos 10 anos (MAPA, 2019). Na Amazônia brasileira, ocorrem desmatamentos para criação de gado em grande escala (Joly et al., 2019). Com ca. 330 milhões de hectares, a Amazônia brasileira possuia, em 2014, 42.427.000 ha (12,8%) de sua extensão convertidos em pastagens (TerraClass, 2020). Em 2018, as pastagens já ocupavam entre ca. 46.209.888 ha (14%) (Lapig, 2020) e 53.431.787 ha (16,1%) (MapBiomas, 2020). Aproximadamente 60-62% de todas as terras desmatadas na Amazônia brasileira são cobertas por pastagens, colocando a criação de gado em evidência como um dos principais impulsionadores do desmatamento (Almeida et al., 2016, Carvalho et al., 2020). Fora o impacto causado pela conversão de áreas, vários estudos com foco na ocorrência de incêndios no Brasil destacam que, atualmente, a Amazônia e o Cerrado apresentam os maiores números de eventos de incêndios relacionados principalmente a práticas de conversão da vegetação natural em pastagem, o que gera outros impactos diretos relacionados às atividades pecuárias (Davidson et al., 2012, MCTI, 2016, Joly et al., 2019). O equivalente a 100 milhões de árvores foram desmatadas na Bacia do Xingu em apenas seis meses. A pressão por novas áreas para a expansão agropecuária, grilagem de terras, retirada ilegal de madeira e a expansão do garimpo provocaram a derrubada de 70 mil hectares de floresta no Pará e Mato Grosso. O ritmo do desmatamento não mostra sinais de diminuição: em junho, 24541 hectares foram destruídos (Harari, 2018). Registro constante de atividades ilegais de grande impacto desenvolvidas na maior parte das áreas protegidas da Amazônia foi desenvolvido por Kauano et al. (2017). Os autores encontraram 27 tipos de uso ilegal de recursos naturais que foram agrupados em 10 categorias de atividades ilegais. A maioria das infrações estava relacionada à supressão e degradação da vegetação (37,40%), seguida pela pesca ilegal (27,30%) e atividades de caça (18,20%). Esses resultados demonstram que, embora as Áreas Protegidas (AP) sejam fundamentais para a conservação da natureza na Amazônia brasileira, as pressões e ameaças representadas pelas atividades humanas incluem uma ampla gama de usos ilegais de recursos naturais. A densidade populacional de até 50 km de uma AP é uma variável chave, influenciando atividades ilegais. Essas ameaças colocam em risco a conservação a longo prazo e ainda são necessários muitos esforços para manter as APs suficientemente grandes e intactos para manter as funções dos ecossistemas e proteger a biodiversidade. Silva-Junior et al. (2018) mostraram que a suscetibilidade da paisagem aos incêndios florestais aumenta no início do processo de desmatamento. Em geral, seus resultados reforçam a necessidade de garantir baixos níveis de fragmentação na Amazônia brasileira, a fim de evitar a degradação de suas florestas pelo fogo e as emissões de carbono relacionadas. A redução do passivo florestal decorrente da última modificação do Código Florestal aumenta a probabilidade de ocorrência de degradação florestal pelo fogo, uma vez que permite a existência de áreas com menos de 80% de cobertura florestal, contribuindo para a manutenção de altos níveis de fragmentação. Os mesmo autores prevêem que a degradação florestal por fogo continuará a aumentar na região, especialmente à luz do relaxamento da lei ambiental mencionada e seus efeitos sinérgicos com mudanças climáticas em curso. Tudo isso pode afetar os esforços para reduzir as emissões do desmatamento e da degradação florestal (REDD). Esses autores indicam que ações para prevenir e gerenciar incêndios florestais são necessárias, principalmente para as propriedades onde existem passivos florestais que são compensados em outras regiões. van Marle et al. (2017) mostraram que até 1987, relativamente poucos incêndios ocorreram na Amazônia e que as emissões de fogo aumentaram rapidamente durante os anos 90. Esses autores descobriram que esse padrão corrobora razoavelmente bem com os conjuntos de dados de perda florestal disponíveis, indicando que embora incêndios naturais possam ocorrer na Amazônia ocasionalmente, as atuais taxas de desmatamento e degradação, ampliadas desde os anos 90, foram a principal causa de aumento na frequência/intensidade dos incêndios nessa região. Ocorrem queimadas em diversos pontos da Estação Ecológica da Terra do Meio (ICMBio, 2015). A Bacia do Rio Trombetas, localizada no município de Oriximiná, onde a espécie é encontrada, apresenta grande potencial hidrelétrico, sofrendo grande influência do governo federal que prevê em seu Plano Nacional de Energia a exploração dos rios Trombetas e Erepecuru para fins de geração de energia hidrelétrica. Os estudos já realizados na bacia projetam 15 empreendimentos hidrelétricos, estando 13 deles com estudos de inventário iniciandos, um com estudo de viabilidade e um com projeto básico. Segundo o Plano Nacional de Energia 2030, a previsão de área total a ser inundada por tais hidrelétricas somaria 5.530 quilômetros quadrados, afetando significativamente as terras quilombolas da região (Andrade, 2011).
Use and Trade Information
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.
Conservation Actions Information
A espécie ocorre em Altamira (PA), município da Amazônia Legal considerado prioritário para fiscalização, referido no Decreto Federal 6.321/2007 (BRASIL, 2007) e atualizado em 2018 pela Portaria MMA nº 428/18 (MMA, 2018). A espécie foi registrada nas seguintes Unidades de Conservação: Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó (US), Estação Ecológica da Terra do Meio (PI), Floresta Estadual do Trombetas (US). Recomendam-se ações de pesquisa (busca por novas áreas de ocorrência, censo e tendências populacionais, estudos de viabilidade populacional) e conservação (Plano de Ação, busca pela espécie em áreas protegidas com habitat potencial) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois as pressões verificadas ao longo de sua distribuição podem ampliar seu risco de extinção.