Taxonomic Notes
Descrita em: Gen. Fl. Pl. 2, 308, 1967. É reconhecida pelas flores longo-pediceladas, dispostas de 1-3 nas axilas foliares; e pelo número de estames variando de 25-30. Popularmente conhecida como Coité do mato em português, Icó rosa no Rio de Janeiro e Coração-de-boi nacionalmente (Sores Neto e Luber, 2020).
Justification
Árvore com até 4 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020). Popularmente conhecida como coité-do-mato, icó-rosa ou coração-de-boi (Flora do Brasil, 2020), foi documentada exclusivamente em Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila associadas à Mata Atlântica presente nos estados do Espírito Santo, município de Linhares, e no Rio de Janeiro, município de Cardoso Moreira. Apresenta distribuição conhecida restrita, extensão de ocorrência (EOO) de 1725 km², área de ocupação (AOO) de 12 km², duas situações de ameaça, considerando-se a distinta intensidade, frequência e cronologia de incidência dos vetores de pressão registrados, e presença em fitofisionomias florestais severamente fragmentadas. Com apenas 12% de remanescentes florestais originais, a Mata Atlântica ainda hoje experiencia declínio e elevadas taxas de desmatamento em vários estados (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2018). Apesar de Espírito Santo e Rio de Janeiro terem reduzidos seus índices, restam atualmente menos de 5% da vegetação original em Cardoso Moreira, situada na região no oeste fluminense e uma das áreas menos florestadas do estado, e cerca de 25% em Linhares (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019), garantidos essencialmente pela presença da Reserva da Vale (onde a espécie foi registrada com maior frequência) e da Reserva Biológica de Sooretama, que apesar de não possuir registros de Neocalyptrocalyx nectarius confirmados, apresenta grande potencial para sua ocorrência. A análise das coleções permite suspeitar raridade para esta espécie, infrequente em coleções mesmo em áreas consideradas bem amostradas. Desmatamento histórico e atual para estabelecimento de pastagens e lavouras (cana-de-açúcar, silvicultura de eucalipto) representam os maiores vetores de transformação da paisagem nos locais onde se sabe que N. nectarius ocorre (Ibá, 2015; Lapig, 2020; Mendonza et al., 2000), o que permite inferir declínio contínuo em EOO, AOO e em área, extensão e qualidade de habitat. Assim, N. nectarius é considerada Em Perigo (EN) nesta ocasião.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020), com distribuição: no estado do Espírito Santo (ES) — no município Linhares —, e no estado do Rio de Janeiro (RJ)— no município Cardoso Moreira.
Population Information
Não existem dados populacionais.
Habitat and Ecology Information
Árvore com até 4 m de altura. Ocorre na Mata Atlântica, em Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila (= Floresta Pluvial) (Flora do Brasil, 2020).
Threats Information
Linhares (ES) está entre os municípios brasileiros produtores de cana-de-açúcar, cujos plantios iniciaram a partir da década de 1980 e substituíram as florestas nativas e áreas de tabuleiros (Mendonza et al., 2000, Oliveira et al., 2014, Pinheiro et al., 2010, Tavares et al., 2010). Tais cultivos são associados a prática da queima dos canaviais, com a finalidade de diminuir a quantidade de palha e facilitar a colheita (Mendonza et al., 2000, Oliveira et al., 2014, Pinheiro et al., 2010, Tavares et al., 2010). De acordo com a Resolução MAPA nº 241/2010, Linhares é um dos municípios indicados para o plantio de novas áreas de cana-de-açúcar, destinadas à produção de etanol e açúcar. A Conab (2018) estima uma área de cana-de-açúcar de 47,6 e 45,3 mil ha, respectivamente para as safras 2017/2018 e 2018/2019 no Espírito Santo. Com 228781 ha de área ocupada com árvores de Eucalyptus spp., o Espírito Santo é o sexto estado da federação com a maior área plantada em 2014 (Ibá, 2015). A prática de queimar os canaviais com a finalidade de diminuir a quantidade de palha e, desta forma, facilitar a colheita se consolidou na década de 1970, com o surgimento do Programa Nacional do Álcool. Ao contrário de outras regiões canavieiras do País, na região de Linhares (ES), os solos de tabuleiro passaram a ser cultivados com cana-de-açúcar apenas nas últimas décadas (Mendonza et al., 2000). Os municípios Cardoso Moreira (RJ) e Linhares (ES) possuem, respectivamente, 82,19% (42951,4ha) e 48,51% (169611,7ha) de seus territórios convertidos em áreas de pastagem, segundo dados de 2018 (Lapig, 2020). A região ao redor do município de Linhares (ES) vem sendo ocupada por empreendimentos minerários, há documentos de processos recentes em andamento para autorização de pesquisa de áreas a serem mineradas (DNPM, 2019). Essa região foi recentemente (2015) diretamente afetada pelo maior desastre ambiental causado por mineração, com o rompimento da barragem de Fundão no município de Mariana (MPF, 2017). Os efeitos do acúmulo de minérios tóxicos no solo ainda estão sendo estudados, porém, eventos similares na região podem destruir em um único evento milhares de hectares de Floresta Estacional Semidecidual na região, habitat preferencial da espécie, assim como ocorreu com florestas na região de Mariana (Do Carmo, 2017). O Atlas da Mata Atlântica indica que restam 16,2 milhões de hectares de florestas nativas mais preservadas acima de 3 hectares na Mata Atlântica, o equivalente a 12,4% da área original do bioma. O desmatamento da Mata Atlântica entre 2017 e 2018 caiu 9,3% em relação ao período anterior (2016-2017), que por sua vez já tinha sido o menor desmatamento registrado pela série histórica do Atlas da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que monitora o bioma desde 1985. Além disso, foi verificado aumento do número de estados no nível do desmatamento zero, de 7 para 9, sendo que outros 3 estão bem próximos. Dos 17 estados, nove estão no nível do desmatamento zero, com desflorestamentos abaixo de 100 hectares, ou 1 km². São eles: Ceará (7 ha), Alagoas (8 ha), Rio Grande do Norte (13 ha), Rio de Janeiro (18 ha), Espírito Santo (19 ha), Paraíba (33 ha), Pernambuco (90 ha), São Paulo (96 ha) e Sergipe (98 ha). Outros três estados estão a caminho desse índice: Mato Grosso do Sul (140 ha), Rio Grande do Sul (171 ha) e Goiás (289 ha). Apesar dos resultados positivos, cinco estados ainda mantém índices inaceitáveis de desmatamento: Minas Gerais (3.379 ha), Paraná (2.049 ha), Piauí (2.100 ha), Bahia (1.985 ha) e Santa Catarina (905 ha). O relatório aponta que no último ano foram destruídos 11.399 hectares (ha), ou 113 km², de áreas de Mata Atlântica acima de 3 hectares nos 17 estados do bioma. No ano anterior, o desmatamento tinha sido de 12.562 hectares (125 km²). O município de Linhares com 350.414 ha possui 89.011 ha que representam 25% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). A prática de queimar os canaviais com a finalidade de diminuir a quantidade de palha e, desta forma, facilitar a colheita se consolidou na década de 1970, com o surgimento do Programa Nacional do Álcool. Ao contrário de outras regiões canavieiras do País, na região de Linhares (ES), os solos de tabuleiro passaram a ser cultivados com cana-de-açúcar apenas nas últimas décadas (Mendonza et al., 2000).
Use and Trade Information
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.
Conservation Actions Information
A espécie ocorre no território de abrangência do Plano de Ação Nacional para a conservação da flora endêmica ameaçada de extinção do estado do Rio de Janeiro (Pougy et al., 2018). Recomendam-se ações de pesquisa (busca por novas áreas de ocorrência, censo e tendências populacionais, estudos de viabilidade populacional) e conservação (Plano de Ação, busca pela espécie em áreas protegidas com habitat potencial) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois as pressões verificadas ao longo de sua distribuição podem ampliar seu risco de extinção.