Taxonomic Notes
Descrita em: Vidensk. Meddel. Naturhist. Foren. Kjøbenhavn 1889, 25, 1889.
Justification
Árvore de altura não registrada, endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020). Popularmente conhecida como pau-de-tucano e canela-preta, foi documentada em Floresta Ciliar e/ou de Galeria associada à Mata Atlântica presente nos estados da Bahia, municípios de Camacan e Porto Seguro, em Minas Gerais, no município de Ouro Preto, e no Rio de Janeiro, município de Nova Friburgo. Apresenta distribuição conhecida ampla, extensão de ocorrência (EOO) de 94192 km²; porém, é restrita a habitat específico, possui área de ocupação (AOO) de 16 km², e apresenta quatro situações de ameaça, com base em sua presença confirmada em apenas quatro municípios, isolados entre si e sujeitos a vetores de pressão distintos em intensidade, frequência e cronologia de incidência. Apesar do seu EOO superar vastamente o limiar para categoria Em Perigo (EN) por B1, a espécie é conhecida para uma região razoavelmente bem coletada, e apesar de ainda existirem áreas potenciais para sua ocorrência que precisam ser melhor investigadas, a incidência de vetores de pressão antrópica podem ampliar drasticamente seu risco de extinção no futuro. Além disso, é possível suspeitar uma extinção local no estado do Rio de Janeiro, uma vez que a espécie não é registrada neste estado, um dos mais bem coletados do país, desde 1874, quando A.F.M. Glaziou coletou o material-tipo. Em Minas Gerais, Vochysia spathulata foi registrada em 1951, e desde então, nenhuma informação a respeito deste táxon neste estado foi levantada. Sua ocorrência em áreas desmatadas na Bahia indicam fragmentação severa, além de baixa frequência. Como não foi documentada dentro de Unidades de Conservação, existe a necessidade de melhorar a proteção do habitat nos locais onde se sabe que ela ocorre. Diante deste cenário, portanto, infere-se o declínio contínuo em área, extensão e qualidade de habitat. Assim, a espécie foi considerada Em Perigo (EN) de extinção nesta ocasião.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020), com distribuição: no estado da Bahia — nos municípios Camacan e Porto Seguro —, no estado de Minas Gerais — no município Ouro Preto —, e no estado do Rio de Janeiro — no município Nova Friburgo.
Population Information
Não existem dados populacionais.
Habitat and Ecology Information
Árvore de altura não registrada. Ocorrendo na Mata Atlântica, associada a Florestas Ciliares ou de Galeria (Flora do Brasil, 2020).
Threats Information
A produção de carne e de leite tem crescido consideravelmente no Brasil nas últimas décadas, atingindo, em 2018-19, ca. 26 milhões de toneladas e 34,4 bilhões de litros, e a previsão oficial é de que ambas atividades deverão crescer, respectivamente, a uma taxa anual de 3,0% e a entre 2,0 e 2,8% nos próximos 10 anos (MAPA, 2019). Na Mata Atlântica, a conversão do uso da terra para atividades agropecuária é um dos principais vetores de modificação, causadores de perda de biodiversidade (Joly et al., 2019). Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica do período de 2019, da área total de 130.973.638 ha da Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica - AALMA (Lei nº 11.428/06), apenas ca. 19.936.323 ha (15,2%) correspondiam a áreas naturais (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2020). Em levantamentos relativos a 2018, as áreas de pastagens ocupavam entre ca. 39.854.360 ha (30,4% da AALMA) (Lapig, 2020) e ca. 50.975.705 ha (39% da AALMA) (MapBiomas, 2020), dentre os quais 36.193.076 ha foram classificados como pastagens e 14.782.629 ha como Mosaico de Agricultura ou Pastagem. Na Mata atlântica, a partir de 2002 foi registrado um decréscimo das áreas ocupadas por pastagens como decorrência da intensificação da pecuária (Parente et al., 2019). Apesar disso, esses autores verificaram a expansão de áreas ocupadas por atividades agricultura de larga escala (cana-de-açúcar e soja), que ocupa espaços antes destinados à pecuária mais extensiva. A constante expansão de estradas é um fator que contribui para a perda de biodiversidade e degradação florestal na Mata Atlântica (Joly et al., 2019). Costa et al. (2019) confirmaram pela primeira vez os efeitos à biodiversidade ocasionado pela construção e pavimentação de rodovias, bem como o tráfego intenso de veículos no Bioma da Mata Atlântica, que podem se estender por muitos metros além da estrada, tendo efeito direto na mortalidade e diversidade das no fragmento. Os municípios Camacan (BA), Nova Friburgo (RJ), Ouro Preto (MG) e Porto Seguro (BA) possuem, respectivamente, 13,59% (7948,7ha), 11,57% (10820,4ha), 11,39% (14188,3ha) e 40,18% (91887,3ha) de seus territórios convertidos em áreas de pastagem, segundo dados de 2018 (Lapig, 2020). A cidade de Ouro Preto (MG) foi fundada e desenvolvida a partir do descobrimento de depósitos de ouro aluvionar no final do século XVII, tendo rapidamente se tornado o segundo maior centro populacional na América latina e a capital da província de minas Gerais. O auge da corrida do ouro ocorreu durante os primeiros quarteis do século XVIII com intensas atividades mineradoras subterrâneas e a céu aberto, em vales e encostas. A partir do século XIX e início do século XX a cidade sofreu um esvaziamento econômico e político devido à mudança da capital do estado para Belo horizonte. O desenvolvimento retornou em 1950 em Ouro Preto com as atividades de mineração de ferro (Sobreira e Fonseca, 2001). Até o ano de 2014 quase 90% da arrecadação do município estava baseado em 19 empresas que atuavam diretamente com extração mineral. A atividade mineradora foi responsável pelo crescimento do PIB em 193% entre os anos de 2005 e 2011 (Mariano, 2014). No município baiano de Porto Seguro 72% da cobertura original de Mata Atlântica encontram-se desmatados (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2011). O município de Nova Friburgo com 93341 ha possui 41799 ha que representam 45% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). Devido à beleza cênica, Nova Friburgo se tornou um local de atração turística e, como consequência, houve uma substituição das atividades agropecuárias por atividades vinculadas ao turismo. Propriedades destinadas à agricultura foram substituídas por pousadas, hotéis, restaurantes e casas de veraneio (Mendes, 2010). O grande fluxo de visitação, aliado à falta de conscientização dos usuários, está causando um acúmulo de lixo em áreas de cachoeiras e trilhas dentro e fora do Parque Natural Municipal das Andorinhas. Além do uso e abertura de novas trilhas para a prática de esporte como motocross, que pode potencializar os efeitos erosivos e o afugentamento de fauna (Myr Projetos Sustentáveis, 2017).
Use and Trade Information
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.
Conservation Actions Information
A espécie ocorre em territórios que poderão ser contemplados por Planos de Ação Nacional (PAN) Territorial, no âmbito do projeto GEF Pró-Espécies - Todos Contra a Extinção: Território Espinhaço Mineiro - 10 (MG), Território Itororó - 35 (BA) e no território de abrangência do Plano de Ação Nacional para a conservação da flora endêmica ameaçada de extinção do estado do Rio de Janeiro (Pougy et al., 2018). Recomendam-se ações de pesquisa (busca por novas áreas de ocorrência, censo e tendências populacionais, estudos de viabilidade populacional) e conservação (Plano de Ação, busca pela espécie em áreas protegidas com habitat potencial) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois as pressões verificadas ao longo de sua distribuição podem ampliar seu risco de extinção.