Taxonomic Notes
Descrita em: Pittieria 13, 5, 1986.
Justification
Árvore ou arbusto de até 3 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020), foi documentada exclusivamente em Cerrado (lato sensu) presente no estado da Bahia, municípios de Barreiras e Formosa do Rio Preto. Apresenta distribuição conhecida restrita, especifidade de habitat, área de ocupação (AOO) de 20 km², quatro situações de ameaça, considerando sua ocorrência em dois municípios sujeitos a vetores de pressão distintos em frequência, intensidade e cronologia, e presença em fitofisionomia severamente fragmentada. A espécie é conhecida somente por poucas coletas realizadas no Cerrado remanescente no oeste da Bahia, no planalto da Serra Geral, em região situada dentro do contexto do MATOPIBA, a última fronteira agrícola do Cerrado brasileiro. Sabe-se que o Cerrado perdeu 88 Mha (46%) de sua cobertura vegetal nativa, e apenas 19,8% permanecem inalterados. Entre 2002 e 2011, as taxas de desmatamento no Cerrado (1% por ano) foram 2,5 vezes maiores que na Amazônia (Prager e Milhorance, 2018; Strassburg et al. 2017). No MATOPIBA, as grandes fazendas se instalam principalmente nas chapadas, com condições edafo-climáticas consideradas adequadas ao cultivo, e promovem a retirada integral da vegetação ao instalarem as áreas de cultivo. Em Barreiras (BA) e Formosa do Rio Preto (BA), onde Qualea hannekesaskiarum foi registrada, entre 31% e 32% de seus territórios foram convertidos em áreas de culturas agrícolas, segundo dados de 2018 (IBGE, 2020). Além disso, não foi registrada em Unidades de Conservação de proteção integral, e a maior parte das coletas foi realizada em áreas particulares. Sua ocorrência sobreposta a uma das regiões que experienciam as maiores taxas de conversão de habitats naturais em áreas agrícolas do país, fora de áreas formalmente protegidas, evidenciam também sua vulnerabilidade. Diante deste cenário, portanto, infere-se o declínio contínuo em AOO, EOO, área, extensão e qualidade de habitat, no número de situações de ameaça e possivelmente, no número de indivíduos maduros. Assim, Q. hannekesaskiarum é considerada Em Perigo (EN) de extinção nesta ocasião.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020), com distribuição: no estado da Bahia — nos municípios Barreiras e Formosa do Rio Preto.
Population Information
Não existem dados populacionais.
Habitat and Ecology Information
Árvores ou arbustos de até 3 m de altura. Ocorre no Cerrado, associada ao Cerrado lato sensu (Flora do Brasil, 2020).
Threats Information
Formosa do Rio Preto tem apenas 22 mil habitantes, mas uma área gigantesca de 1,6 milhão de hectares – maior que países como Bahamas, Jamaica ou Irlanda do Norte. Só a empresa Agronegócio Estrondo ocupa 350 mil hectares – mais do que o dobro da área da cidade do Rio de Janeiro -, dos quais 150 mil estão destinados ao plantio de soja e outros grãos. Grandes fazendas se instalam principalmente nas chapadas de Cerrado, ideais para a plantação por serem planas e receberem bastante chuvas. São as mesmas que os povos geraizeiros usam para criar seu pequeno rebanho. Como os povos indígenas, os geraizeiros são reconhecidos pelo governo por terem desenvolvido seu modo de vida enraizado ao seu território. Mas essas comunidades tradicionais estão na iminência de serem deslocadas às custas do avanço da fronteira agrícola (The Intercept Brasil, 2018). O Cerrado perdeu 88 Mha (46%) de sua cobertura vegetal nativa, e apenas 19,8% permanecem inalterados. Entre 2002 e 2011, as taxas de desmatamento no Cerrado (1% por ano) foram 2,5 vezes maiores que na Amazônia. A proteção atual permanece fraca. As áreas protegidas públicas cobrem apenas 7,5% do bioma (em comparação com 46% da Amazônia) e, de acordo com o Código Florestal brasileiro, apenas 20% (em comparação com 80% na Amazônia) de terras privadas são destinadas a conservação (Strassburg et al. 2017). Como resultado, 40% da vegetação natural remanescente pode agora ser legalmente convertida (Soares-Filho et al. 2014). Os municípios de Barreiras (BA) e Formosa do Rio Preto (BA) possuem, respectivamente, 31% (249582ha) e 32,29% (504817ha) de seus territórios convertidos em áreas de culturas agrícolas, segundo dados de 2018 (IBGE, 2020). A ocupação do Cerrado pela atividade pecuária se deu a partir da década de 1920. Mais tarde, com incentivos do governo federal, a atividade pecuária iniciou o processo de ocupação e conversão do Cerrado em pastagens (Klink e Moreira, 2002, Sano et al. 2008). Desde então, a pecuária passou a ocupar extensas áreas e estabeleceu-se como uma das principais atividades econômicas no país (Sano et al. 2008), recebendo cada vez mais subsídios governamentais, tais como, a criação do Conselho para o Desenvolvimento da Pecuária (Rachid et al. 2013). No início, a pecuária beneficiou-se de gramíneas nativas (Silva et al. 2015) e posteriormente o uso de tecnologias e a introdução de gramíneas exóticas para melhoramento das pastagens contribuíram para o sucesso da atividade no Cerrado (Ratter et al. 1997), sendo a região responsável por 41% do leite e 40% da carne bovina produzida no Brasil (Pereira et al. 2012). As pastagens cultivadas ocupam cerca de 26,5% do território e representam o principal uso do solo do Cerrado (Sano et al. 2008). Além dos impactos do gado sobre a vegetação nativa, a atividade pecuária historicamente está associada às queimadas realizadas para renovação da pastagem para o gado (Kolbek e Alves, 2008, Silva et al. 2015), as quais muitas vezes fogem de controle e tornam-se grandes incêndios (Verdi et al. 2015). O município Barreiras (BA) possui 5,11% (40194,9ha) do seu território convertido em áreas de pastagem, segundo dados de 2018 (Lapig, 2020).
Use and Trade Information
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.
Conservation Actions Information
A espécie foi registrada na seguinte Unidade de Conservação: Área de Proteção Ambiental do Rio Preto. A espécie foi avaliada como Vulnerável (VU) na lista oficial das espécies da flora ameaçadas de extinção no Estado da Bahia (SEMA, 2017). Recomendam-se ações de pesquisa (busca por novas áreas de ocorrência, censo e tendências populacionais, estudos de viabilidade populacional) e conservação (Plano de Ação, busca pela espécie em áreas protegidas com habitat potencial) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois as pressões verificadas ao longo de sua distribuição podem ampliar seu risco de extinção.