Taxonomic Notes
Descrita em: Bol. Mus. Nac. Rio de Janeiro, Bot. 117: 4 (-6; figs. 2, 4c-d). 2002. Nomes vulgares: Angélica (Bahia e Espírito Santo - ES); Guruçuca (ES); Urussuca (ES).
Justification
Árvore de até 30 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2019). Popularmente conhecida por Angélica, Guruçuca ou Urussuca, foi documentada em Floresta Ombrófila (Floresta de Tabuleiro), associada à Mata Atlântica, nos estados da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Apresenta distribuição restrita, AOO=84 km², e ocorrência exclusiva às florestas de baixada destes três estados, muito fragmentadas. Os estados da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro resguardam 11%, 10,5% e 18,7%, respectivamente, de remanescentes da Mata Atlântica original (SOS Mata Atlântica e INPE, 2019). Os ecossistemas florestais de terras baixas onde a espécie ocorre foram drasticamente afetados por atividades antrópicas altamente impactantes, como desmatamento para ampliação de áreas agrícolas e pastagens, corte seletivo de madeiras-de-lei, plantações de cana-de-açúcar, silvicultura, café, cacau, fogo, crescimento urbano e turístico desordenado (SEAMA 2018; Burla, 2011; Tavares et al., 2010; Lumbreras et al., 2004; Rolim e Chiarello, 2004). No território do Norte Fluminense, onde foi documentada uma única vez em 2000 e aparenta ser bastante rara, o histórico de degradação acompanha atualmente a crescente taxa de urbanização (Lemos et al., 2014) e ampliação da especulação imobiliária e turismo desordenado (Costa, 2015). Estimativas recentes indicam área de floresta remanescente na região sul e extremo-sul da Bahia, onde a espécie foi documentada uma única vez em 1989, entre 1% e 12%, dependendo da metodologia empregada (Lapig, 2019; MapBiomas, 2019). No Espírito Santo, vastas áreas foram ocupadas com plantios industriais homogêneos de Eucalyptus e Pinus (Siqueira et al., 2004), além de extensões consideráveis de cana-de-açúcar e cacau. A espécie também parece ter sofrido muito intensamente com o corte seletivo pela sua madeira de qualidade e ampla aplicabilidade (Vianna e Pereira, 2002). A espécie foi documentada dentro dos limites de duas áreas protegidas privadas (Reserva Florestal da Vale em Linhares e Porto Seguro). Adotando-se o princípio da precaução e diante desse cenário, a espécie foi considerada Em perigo (EN) de extinção novamente. Infere-se declínio contínuo em EOO, AOO, extensão e qualidade de habitat, no número de situações de ameaça e, ante o verificado corte seletivo, no número de indivíduos maduros. Recomendam-se ações de pesquisa (distribuição, números e tendências populacionais) e conservação (Plano de Ação) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza, uma vez que a persistência dos vetores de stress descritos podem ampliar seu risco de extinção no futuro. É crescente a demanda para que se concretize o estabelecimento de um Plano de Ação Nacional (PAN) previsto para os estados em que Vochysia angelica ocorre.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2019), com ocorrência nos estados: Bahia, município de Porto Seguro (Farias 335), Espírito Santo, municípios de Linhares (Silva 305), Conceição da Barra (Pereira 4432); e Rio de Janeiro, município de Rio das Ostras (Braga 6227).
Population Information
Não existem dados sobre a população.
Habitat and Ecology Information
Árvore com até 30 m de altura, ocorrente em Floresta Ombrófila na Mata Atlântica (Vianna e Pereira, 2002).
Threats Information
Nos municípios de Conceição da Barra (ES) e Rio das Ostras (RJ), respectivamente, 91% e 86% da cobertura original da Mata Atlântica encontram-se desmatados (SOS Mata Atlântica e INPE, 2011). Nos municípios baianos de Belmonte e Uruçuca, respectivamente, 87% e 82% da cobertura original de Mata Atlântica encontram-se desmatados (SOS Mata Atlântica e INPE, 2011). Em Porto Seguro, esse percentual é de 72%. A região da planície aluvial do rio Doce, onde a espécie ocorre, é em grande parte ocupada por sistemas de cabruca, nos quais o cacau é cultivado no sub-bosque de áreas de floresta nativa (Rolim et al., 2006). Esse sistema de cultivo altera drasticamente a estrutura e composição da floresta, levando a um declínio de espécies de estágios sucessionais avançados e a um aumento da abundância de espécies pioneiras e secundárias iniciais (Rolim e Chiarello, 2004). Linhares (ES) está entre os municípios brasileiros produtores de cana-de-açúcar, cujos plantios iniciaram a partir da década de 1980 e substituíram as florestas nativas e áreas de tabuleiros (Mendonza et al., 2000; Oliveira et al., 2014; Pinheiro et al., 2010; Tavares et al., 2010). Tais cultivos são associados a prática da queima dos canaviais, com a finalidade de diminuir a quantidade de palha e facilitar a colheita (Mendonza et al., 2000; Oliveira et al., 2014; Pinheiro et al., 2010; Tavares et al., 2010). De acordo com a Resolução MAPA nº 241/2010, Linhares é um dos municípios indicados para o plantio de novas áreas de cana-de-açúcar, destinadas à produção de etanol e açúcar. A Conab (2018) estima uma área de cana-de-açúcar de 47,6 e 45,3 mil ha, respectivamente para as safras 2017/2018 e 2018/2019 no Espírito Santo.
Use and Trade Information
A espécie apresenta madeira macia que é utilizada para diversos fins, como a fabricação de dormentes e tábuas (Vianna e Pereira, 2002).
Conservation Actions Information
A espécie é considerada Vulnerável (VU) segundo a Lista Vermelha da flora ameaçada do Espírito Santo (Simonelli e Fraga, 2007). Categorizada como Em Perigo (EN) no Livro Vermelho CNCFlora 2013, estando incluída no Anexo I da Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (MMA, 2014). A espécie ocorre na Reserva Natural Vale, em Linhares, ES (Silva 236), e na Reserva Biológica União, RJ (Braga 6227) (Vianna e Pereira, 2002). A espécie ocorre em território que será contemplado por Planos de Ação Nacional (PANs) Territoriais, no âmbito do projeto GEF pró-espécies: todos contra a extinção: Território Espírito Santo 33 (ES).