Justification
Ituglanis epikarsticus é endêmica do Brasil, ocorre em uma única caverna, a caverna São Mateus do sistema São Mateus-Imbira, bacia do rio Paranã, alto rio Tocantins, no estado de Goiás. Ocorre em um ambiente bastante específico, um aquífero superior formado por água de infiltração na rocha, o qual aflora através de um “chuveiro” no teto da caverna, abastecendo várias poças de travertinos. A área de ocupação foi calculada em 4 km2 e a caverna está localizada no interior do Parque Estadual de Terra Ronca. A população fonte está no epicarste, e os indivíduos foram observados nos travertinos. Embora o ambiente principal da espécie esteja aparentemente protegido, foram observadas reduções na vazão do aquífero superior nas últimas três décadas. Além disso, o acesso à visitação da caverna é feito pelos travertinos, e ocorre o pisoteio das poças onde a espécie é encontrada. As ameaças decorrem do avanço da agropecuária sobre o Parque, do uso de agrotóxicos aplicados por deriva, do desmatamento que causa diminuição da recarga hídrica; todos esses impactos caracterizam declínio continuado da qualidade do habitat. Considerando a contaminação química como principal ameaça, delimita-se uma localização. Portanto, Ituglanis epikarsticus foi categorizada como Criticamente em Perigo (CR) pelo critério B2ab(iii).
Geographic Range Information
A espécie é endêmica do Brasil e sua distribuição original está restrita a uma única caverna, a Caverna São Mateus, parte do Sistema São Mateus-Imbira (13°40’00”S, 46°22’00”W), bacia do rio Paranã, alto rio Tocantins, município de São Domingos, estado de Goiás (Bichuette and Trajano 2004). Cabe ressaltar que esta espécie ocorre em aquíferos superiores formados por água de infiltração na rocha, caso raro em termos mundiais para vertebrados, ou seja, os indivíduos se distribuem em locais específicos da caverna e não em toda sua extensão, limitando-se a uma área menor desta localidade (M.E. Bichuette and J.E. Gallão obs. pess.). Sua área de ocupação (AOO) é de 4 km2.
Population Information
População endêmica de uma única caverna e susceptível a flutuações ambientais, em função da especialização à relativa estabilidade característica do meio subterrâneo. Entre 1999 e 2001, censos visuais em um local de ocorrência demonstraram que esta população deve ser amplamente distribuída no epicarste com densidades populacionais baixas. Naquelas ocasiões, em uma área foram registradas densidades entre 0,03 e 0,17 ind/metros quadrados (Bichuette 2003), consideradas baixas, mesmo para organismos troglóbios. O tamanho populacional é desconhecido.
Habitat and Ecology Information
A espécie é encontrada em riacho de nível superior (epicarste), formado por água de infiltração na rocha em uma caverna da bacia do alto Tocantins, nordeste de Goiás. Este ambiente apresenta substrato rochoso, lótico e raso, com profundidades entre 0,2 e 0,5 metros (Bichuette and Trajano 2004). Possui especializações quanto ao uso do espaço, como exploração da meia-água e superfície aumentada; redução da aversão a estímulos luminosos, redução no comportamento de se entocar e ritmicidade circadiana perdida (Bichuette 2003). Dados reprodutivos sobre a espécie ainda são desconhecidos. Espécie carnívoro-generalista (invertívoro), com táticas de predador quimicamente orientado de animais de fundo e de superfície (M.E. Bichuette, obs. pess.).
Threats Information
As ameaças decorrem do avanço da agropecuária sobre o Parque, do uso de agrotóxicos aplicados por deriva, do desmatamento que causa diminuição da recarga hídrica. Embora o ambiente principal da espécie esteja aparentemente protegido, o aquífero superior sofreu redução da vazão na estação seca de 2011, fato nunca observado nos últimos 30 anos, segundo guia local (R.H. Santos com. pess. 2011). O aporte de alimento nesta parte da caverna dá-se de maneira lenta, por água de infiltração/ percolação na rocha, sendo que mudanças climáticas globais com grandes períodos de estiagem poderão causar aumento na restrição alimentar (M.E. Bichuette obs. pess.). Troglóbios em geral são organismos altamente vulneráveis em função de seu alto grau de endemismo, com distribuição geográfica restrita, muitas vezes a uma ou poucas localidades, populações pequenas quando comparadas com as dos epígeos proximamente aparentados, e especializações biológicas, comportamentais e fisiológicas, tais como o ciclo de vida do tipo K (reposição populacional muito lenta), dependência de habitat específicos e baixa tolerância a flutuações ambientais. Assim, perdas populacionais, mesmo relativamente pequenas, podem ter efeitos rápidos e catastróficos sobre a espécie, frequentemente irreversíveis. Outra ameaça é a visitação turística no trecho de ocorrência da espécie na caverna. Essa ameaça, porém, afeta pequena parte da população, já que o principal habitat da espécie é o aquífero superior da caverna.
Use and Trade Information
Não há nenhuma informação disponível sobre uso ou comercio desta espécie.
Conservation Actions Information
Por prevenção, a visitação turística à caverna deve ser suspensa, uma vez que parte do trecho de ocorrência da espécie é visitada. O trajeto de visitação contempla o rio e, aparentemente, o pisoteio já está desencadeando um decréscimo populacional. Deve haver também monitoramento da drenagem desta caverna, visando à detecção de poluição e outros possíveis eventos impactantes, já que esta caverna apresenta espécies de invertebrados troglóbios. Ainda, a área cárstica de São Domingos, nordeste de Goiás, representa um hotspot, contendo sete espécies troglóbias registradas de ictiofauna subterrânea, com vários casos de coexistência de peixes, fato raro na literatura (M.E. Bichuette e J.E. Gallão obs. pess.). Projetos com distribuição, biologia, ecologia e comportamento no ambiente natural e em laboratório estão em desenvolvimento no Laboratório de Estudos Subterrâneos da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, em São Carlos (SP). Porém, pesquisas com monitoramento da população, estudos genéticos e sistemáticos ainda são necessárias (revisão do gênero Ituglanis). Presença em unidades de conservação, Goiás: Parque Estadual de Terra Ronca, na caverna São Mateus.
Esta avaliação da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção global foi originalmente concluída como parte do processo de avaliação do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em preparação).