Taxonomic Notes
Descrita em: Novon 26(2), 169, 2018. É afim de Kielmeyera rufotomentosa pelas flores pequenas, mas pode ser distinguido pela inflorescência congesta; pedicelos muito curtos, 1–3 (–4) mm de comprimento (vs. (4–)6–10 mm de comprimento); botões florais maduros mais largos, 5,6–11,4 3 (4–) 6,1–7,6 mm (vs. 6,1–9,1 (–9,8) 3 4,2–5,3 mm); sépalas iguais em tamanho (vs. desiguais, raramente iguais), mais estreitas, geralmente duas vezes mais longas do que largas (vs. comprimento e largura geralmente semelhantes); pedúnculo glabro (vs. tomentulose a tomentose); lâmina foliar de carta a subcoriácea (vs. membranosa), com canais curtos pretos ou vermelhos independentes da venação e paralelos às veias secundárias (vs. canais independentes da venação ausente), pontos glandulares dentro das aréolas geralmente ausentes (vs. sempre presentes, alongados, vermelho) e veias secundárias com 1,8–4 (–6,9) mm de distância (vs.(3,5–)4–10 mm de distância); e pecíolo plano adaxialmente (vs. canaliculado). Finalmente, K. fatimae cresce sobre rochas em áreas de vegetação baixa-montana aberta, enquanto K. rufotomentosa cresce em inselbergs (Trad et al., 2018).
Justification
Árvore com até 6 m de altura, endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020; Trad et al., 2018), foi documentada em Vegetação sobre afloramentos rochosos associada à Mata Atlântica presente no estado do Espírito Santo, municípios de Fundão, Ibiraçu, Nova Venécia, Santa Leopoldina, Santa Teresa e Viana. Apresenta distribuição conhecida restrita, crescendo especificamente sobre rochas em áreas de vegetação baixa-montana aberta, extensão de ocorrência (EOO) de 1558 km², a área de ocupação (AOO) de 36 km², cinco situações de ameaça, considerando-se o grau de perturbação associado as extremidades de sua EOO conhecida e o grau de proteção associado a subpopulações específicas, e presença em fitofisionomia fragmentada. Afloramentos graníticos como os que Kielmeyera fatimae foi documentada sofrem ameaças como exploração de pedreiras, mineração e invasões biológicas (Paula et al., 2016; Porembski, 2000, Forzza et al., 2003, Martinelli, 2007), que constituem os principais agentes causadores de estresse sobre o habitat em que a espécie ocorre. A redução das florestas do entorno desses afloramentos rochosos, verificada a partir da acentuada conversão histórica e atual de florestas em áreas agrícolas e pecuárias em seus municípios de ocorrência (Google Earth Pro Version 7.3.2., 2018), particularmente café, causa impactos drásticos na manutenção das condições microclimáticas ideais para o desenvolvimento de diversas espécies endêmicas, incluindo K. fatimae. Diante deste cenário, portanto, infere-se o declínio contínuo em EOO, AOO, extensão e qualidade de habitat, no número de situações de ameaça e no número de indivíduos maduros. Assim, K. fatimae foi considerada Em Perigo (EN) de extinção nesta ocasião.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2020), com distribuição: no estado do Espírito Santo — nos municípios Fundão, Ibiraçu, Nova Venécia, Santa Leopoldina, Santa Teresa e Viana.
Population Information
A frequência dos indivíduos na população global pode ser considerada esparsa em algumas localidades e em outras, como em Santa Teresa, há um número maior de indivíduos (Rafaela Jorge Trad, comunicação pessoal, 2020).
Habitat and Ecology Information
Árvore com até 6 m de altura (Trad et al., 2018). Ocorre na Mata Atlântica, em Vegetação Sobre Afloramentos Rochosos (Flora do Brasil, 2020).
Threats Information
A região de Santa Teresa (ES) até o século passado era coberta por floresta nativa. Com a chegada dos europeus e a colônia, foram priorizando outros usos, em especial o cultivo do café (Mendes e Padovan, 2000). Os municípios Fundão (ES), Ibiraçu (ES) e Santa Teresa (ES) possuem, respectivamente, 7,1% (2038ha), 7,84% (1578ha) e 13,66% (9330ha) de seus territórios convertidos em áreas de silvicultura, segundo dados de 2018 (IBGE, 2020). Os municípios Fundão (ES), Ibiraçu (ES), Nova Venécia (ES), Santa Leopoldina (ES), Santa Teresa (ES) e Viana (ES) possuem, respectivamente, 40,6% (11723,3ha), 25,53% (5138,5ha), 66,5% (95729,1ha), 19,48% (13985,9ha), 23,05% (15743,6ha) e 32% (9993,8ha) de seus territórios convertidos em áreas de pastagem, segundo dados de 2018 (Lapig, 2020). A perda e fragmentação de habitat no domínio da Mata Atlântica está aumentando rapidamente (Galindo-Leal et al., 2003, Tabarelli, Silva e Gascon, 2004). Afloramentos graníticos também estão sofrendo um conjunto particular de ameaças, incluindo exploração de pedreiras, mineração e invasões biológicas (Porembski, 2000, Forzza et al., 2003, Martinelli, 2007), que reforçam a necessidade de proteção dos inselbergs e de sua extraordinária biodiversidade, especialmente como resultado dos altos níveis de endemismo. Martinelli (2007) alertou para a necessidade de ações urgentes de conservação e propôs a inclusão dos afloramentos rochosos na agenda brasileira de conservação da diversidade biológica (Paula et al., 2016). Em Nova Venécia (ES), a floresta sofre forte influência de fatores de degradação, como a exploração seletiva histórica ou atual, presença de estradas no local, corte raso em parte desta, roçada do sub-bosque (bosqueamento) e pastejo (Google Earth Pro Version 7.3.2., 2018). O município de Nova Venécia com 144217 ha possui 8337 ha que representam 6% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). O município de Santa Leopoldina com 71810 ha possui 19913 ha que representam 27% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). O município de Santa Teresa com 68316 ha possui 13933 ha que representam 20% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019).
Use and Trade Information
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.
Conservation Actions Information
A espécie foi registrada na seguinte Unidade de Conservação: Área de Proteção Ambiental do Pico do Goiapaba-Açu. De acordo com Trad et al. (2018), Kielmeyera fatimae foi registrada para cinco municípios, que correspondem a cinco localidades. Embora a grande maioria dos espécimes tenha sido coletada dentro de áreas protegidas, tais áreas ainda podem sofrer danos devido à pressão antrópica. Recomendam-se ações de pesquisa (busca por novas áreas de ocorrência, censo e tendências populacionais, estudos de viabilidade populacional) e conservação (Plano de Ação, garantia de proteção in situ das subpopulações situadas dentro de áreas protegidas) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois as pressões verificadas ao longo de sua distribuição podem ampliar seu risco de extinção. A espécie ocorre em território que poderá ser contemplado por Plano de Ação Nacional (PAN) Territorial, no âmbito do projeto GEF Pró-Espécies - Todos Contra a Extinção: Território Espírito Santo - 33 (ES).