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A produção de carne e de leite tem crescido consideravelmente no Brasil nas últimas décadas, atingindo, em 2018-19, ca. 26 milhões de toneladas e 34,4 bilhões de litros, e a previsão oficial é de que ambas atividades deverão crescer, respectivamente, a uma taxa anual de 3,0% e a entre 2,0 e 2,8% nos próximos 10 anos (MAPA, 2019). Na Mata Atlântica, a conversão do uso da terra para atividades agropecuária é um dos principais vetores de modificação, causadores de perda de biodiversidade (Joly et al., 2019). Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica do período de 2019, da área total de 130.973.638 ha da Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica - AALMA (Lei nº 11.428/06), apenas ca. 19.936.323 ha (15,2%) correspondiam a áreas naturais (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2020). Em levantamentos relativos a 2018, as áreas de pastagens ocupavam entre ca. 39.854.360 ha (30,4% da AALMA) (Lapig, 2020) e ca. 50.975.705 ha (39% da AALMA) (MapBiomas, 2020), dentre os quais 36.193.076 ha foram classificados como pastagens e 14.782.629 ha como Mosaico de Agricultura ou Pastagem. Na Mata atlântica, a partir de 2002 foi registrado um decréscimo das áreas ocupadas por pastagens como decorrência da intensificação da pecuária (Parente et al., 2019). Apesar disso, esses autores verificaram a expansão de áreas ocupadas por atividades agricultura de larga escala (cana-de-açúcar e soja), que ocupa espaços antes destinados à pecuária mais extensiva. Planícies costeiras arenosas e tipos vegetacionais associados encontrados ao longo da costa brasileira representam um ecossistema bastante diversificado em fisionomia, florística e estrutura. Embora protegidas por unidades de conservação, são ameaçadas principalmente pela especulação imobiliária e extração de areia (Assis et al., 2004). No litoral do Espírito Santo, os município de Vitória, Viana e Guarapari apresentam em média 60% de incremento populacional nessa década, por motivos distintos (Girardi e Cometti, 2006). Em Guarapari, o crescimento é resultado do crescimento da atividade turística, sendo nesse período instalada a infraestrutura turística, com urbanização e verticalização situadas na área central do município (Girardi e Cometti, 2006). Esses processos de adensamento, expansão periférica e de busca de áreas de turismo e veraneio foram responsáveis pelo fato de o Litoral Sul ter apresentado um crescimento cerca de duas vezes e meia superior ao do Espírito Santo como um todo (Girardi e Cometti, 2006). Entre as décadas de 1970 e 2000, Guarapari manteve um crescimento populacional de 60% em média, por década, relacionado aos investimentos em estrutura turística (Girardi e Cometti, 2006). Em Guarapari mais de 50% dos empregos envolvem atividades francamente voltadas ao turismo e ao veraneio (comércio, construção, serviços domésticos, alojamento e alimentação) e tem seu PIB fortemente concentrado no setor terciário (mais de 95%), relacionado com seu vínculo com a atividade turística e de veraneio (Girardi e Cometti, 2006). Nas florestas litorâneas atlânticas dos estados da Bahia e Espírito Santo, cerca de 4% da produção mundial de cacau (Theobroma cacao L.) e 75% da produção brasileira é obtida no que é chamado localmente de sistemas de cabruca. Neste tipo especial de agrossilvicultura o sub-bosque é drasticamente suprimido para dar lugar a cacaueiros e a densidade de árvores que atingem o dossel é significativamente reduzida (Rolim e Chiarello, 2004). De acordo com Rolim e Chiarello (2004) os resultados do seu estudo mostram que a sobrevivência a longo prazo de árvores nativas sob sistemas de cabruca estão sob ameaça se as atuais práticas de manejo continuarem, principalmente devido a severas reduções na diversidade de árvores e desequilíbrios de regeneração. Tais resultados indicam que as florestas de cabrucas não são apenas menos diversificadas e densas do que as florestas secundárias ou primárias da região, mas também que apresentam uma estrutura onde espécies de árvores dos estágios sucessionais tardios estão se tornando cada vez mais raras, enquanto pioneiras e espécies secundárias estão se tornando dominantes (Rolim e Chiarello, 2004). Isso, por sua vez, resulta em uma estrutura florestal drasticamente simplificada, onde espécies secundárias são beneficiadas em detrimento de espécies primárias (Rolim e Chiarello, 2004). Grande parte das florestas úmidas do sul da Bahia estão fragmentadas como resultado da atividade humana realizadas no passado, tais como o corte madeireiro e implementação da agricultura (Paciencia e Prado, 2005). Estima-se que a região tenha 30000 ha de cobertura florestal (Paciência e Prado, 2005), 40000 ha em estágio inicial de regeneração e 200000 ha em área de pasto e outras culturas, especialmente cacau (Theobroma cacao L.), seringa (Hevea brasiliensis Muell. Arg.), piaçava (Attalea funifera Mart.) e dendê (Elaeis guianeensis Jacq.) (Alger e Caldas, 1996). Especificamente em Una, 27% da cobertura florestal é ocupada por pasto, 15% de floresta em estágio inicial de regeneração, 6% de plantação de cacau e 2 de plantação de seringa (Pardini, 2004). A maioria das propriedades particulares são fazendas de cacau, o principal produto da agricultura (Paciência e Prado, 2005). Os municípios de Conceição da Barra (ES) e Itapemirim (ES) possuem, respectivamente, 9,16% (10835ha) e 12,82% (7061ha) de seus territórios convertidos em áreas de culturas agrícolas, segundo dados de 2018 (IBGE, 2020). Os municípios de Conceição da Barra (ES) e Itapemirim (ES) possuem, respectivamente, 8,78% (10382ha) e 11,8% (6500ha) de seus territórios convertidos em áreas de cultivo de cana-de-açúcar, segundo dados de 2018 (IBGE, 2020). As florestas plantadas de eucalipto estão distribuídas estrategicamente, em sua maioria, nos estados de Minas Gerais, com maior área plantada, São Paulo, Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul (Baesso et al., 2010). Com 228781 ha de área ocupada com árvores de Eucalyptus spp., o Espírito Santo é o sexto estado da federação com a maior área plantada em 2014 (Ibá, 2015). A prática de queimar os canaviais com a finalidade de diminuir a quantidade de palha e, desta forma, facilitar a colheita se consolidou na década de 1970, com o surgimento do Programa Nacional do Álcool. Ao contrário de outras regiões canavieiras do País, na região de Linhares (ES), os solos de tabuleiro passaram a ser cultivados com cana-de-açúcar apenas nas últimas décadas (Mendonza et al., 2000). Os municípios Conceição da Barra (ES), São Mateus (ES) e Serra (ES) possuem, respectivamente, 38,71% (45782ha), 18,26% (42847ha) e 7,39% (4048ha) de seus territórios convertidos em áreas de silvicultura, segundo dados de 2018 (IBGE, 2020). Os municípios Camacan (BA), Conceição da Barra (ES), Duque de Caxias (RJ), Guarapari (ES), Itapemirim (ES), Linhares (ES), Macaé (RJ), Miguel Pereira (RJ), Poções (BA), Presidente Kennedy (ES), Rio das Ostras (RJ), São Mateus (ES), Saquarema (RJ), Serra (ES), Una (BA) e Vila Velha (ES) possuem, respectivamente, 13,59% (7948,7ha), 28,95% (34306,3ha), 14,31% (6688,9ha), 24,96% (14773,1ha), 70,87% (39016,4ha), 48,51% (169611,7ha), 44,81% (54460,8ha), 31,46% (9059,5ha), 61,01% (57187,6ha), 78,46% (46709,3ha), 53,82% (12277,5ha), 55,41% (129978,7ha), 39,85% (14059,8ha), 33,15% (18156,7ha), 13,8% (16873,1ha) e 39,21% (8232,9ha) de seus territórios convertidos em áreas de pastagem, segundo dados de 2018 (Lapig, 2020). Com a transformação do uso do solo no município de Guarapari (ES) que possui no total 59,060 ha restaram de áreas naturais ou em regeneração apenas 29,871 (19%), sendo: 23,871 ha de formação florestal natural, 4,090 ha de formação não florestal, 548 ha de mangue e 1361 ha de afloramento rochoso (Mapbiomas, 2019). Considerando que a espécie ocorre especificamente em formação florestal, restam apenas no município cerca de 40% de habitats potenciais da espécie. O município de Duque de Caxias com 46762 ha possui 16224 ha que representam 34% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). O município de Linhares com 350414 ha possui 89011 ha que representam 25% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). O município de Macaé com 121684 ha possui 30576 ha que representam 25% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). O município de Saquarema com 35357 ha possui 6069 ha que representam 17% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). O município de Serra com 55169 ha possui 7047 ha que representam 13% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). O município de Una com 117174 ha possui 44914 ha que representam 38% da Mata Atlântica original do município (SOS Mata Atlântica e INPE - Aqui tem Mata, 2019). Vitória (ES) possuía apenas 14% de vegetação nativa em 2010 (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2011).
As ameaças aqui relacionadas são apresentadas de forma geral tanto para o habitat como para a área onde a espécie é documentada, não representando, portanto, ameaças diretas à perpetuação da espécie. Tais vetores de pressão podem causar declínio local, mas acredita-se que não tenham grande impacto sobre o habitat e a população global da espécie, principalmente devido à sua ampla distribuição.