Taxonomic Notes
Descrita em: Kostermans, A., 1961. Reinwardtia 6(1): 24. Aiouea tomentosa (previously known as Cinnamomum tomentulosum) apresenta variação em sua morfologia vegetativa, como tamanho, formato e pubescência das folhas. Em alguns extremos de variação A. tomentosa se aproxima da também variável Aiouea haussknechtii. As características que as distinguem são parte inferior das folhas com pelos eretos e abundantes, ápice foliar agudo a longo-acuminado em A. tomentosa, enquanto A. haussknechtii possui os pelos da parte inferior das folhas esparsos e ápice foliar agudo a obtuso. Caracteriza-se por folhas elípticas, face abaxial pubescente. Inflorescência cimosa paniculada, na axila das folhas. Flores esbranquiçadas. Frutos elipsóides, com cúpula. (Lorea-Hernánez, 1996).
Justification
Árvore ou arbusto de até 6 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2019). Foi documentada em Cerrado, Floresta Ombrófila, Floresta Estacional e em áreas de transição entre Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. Apresenta distribuição ampla ao longo da Cadeia do Espinhaço nos estados da Bahia e Minas Gerais, EOO=275773 km², AOO= 80 km², mais de 10 situações de ameaça, presença constante em herbários e ocorrência confirmada dentro dos limites de Unidades de Conservação de proteção integral. Sabe-se que os estados da Bahia e Espírito Santo resguardam atualmente 11% e 10,2% de remanescentes da Mata Atlântica original, respectivamente (SOS Mata Atlântica e INPE, 2019). O Cerrado perdeu 88 Mha (46%) de sua cobertura vegetal nativa (Strassburg et al., 2017). Mineração a céu aberto, queimadas, extração de madeira e espécies invasoras são grandes ameaças aos Campos Rupestres mineiros (Kolbek e Alves, 2008, Silveira et al., 2016). A queima de vegetação para criação de gado é uma prática comum neste bioma (Kolbek e Alves, 2008; Silveira et al., 2016). Embora a maioria das espécies de Campos Rupestres pareça ser resistente ao fogo (Kolbek e Alves, 2008, Silveira et al., 2016), essa prática intensifica a disseminação do capim invasivo Melinis minutiflora, que é capaz de crescer novamente em áreas queimadas, impedindo a regeneração das espécies nativas (Kolbek e Alves, 2008). Finalmente, a mineração a céu aberto representa uma das maiores causas de redução de biodiversidade ao longo da Cadeia do Espinhaço (Fernandes et al., 2005). Diante desse cenário, portanto, a espécie foi considerada Quase Ameaçada (NT) novamente. Ações de pesquisa (distribuição, números e tendências populacionais) e conservação (Plano de Ação) são urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza, uma vez que a persistência dos vetores de stress descritos podem ampliar seu risco de extinção no futuro. É crescente a demanda para que se concretize o estabelecimento de um Plano de Ação Nacional (PAN) previsto para os estados da Bahia e Minas Gerais.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2019), com ocorrência nos estados: Bahia, municípios de Rio de Contas (Moraes 2594), Jacaraci (Carvalho-Sobrinho 2866), Ibicoara (Passos Júnior 295), Mucugê (Ribeiro-Filho 227), Lençóis (Melo PCD1302), Morro do Chapéu (Rocha 453); e Minas Gerais, municípios de Santa Bárbara (Semir et al. 28861), Ouro Preto (Lisboa S.N), Uberaba (Roschel S.N), Jequitinhonha (Paula-Souza 5623), Nova Lima (Andrade S.N), São Brás do Suaçuí (Mendes S.N), Catas Altas (Riedel 522), Sabará (Francisco 5590), Diamantina (Irwin 22448), Serra do Salitre (Duarte 3028). Foi registrada entre 1300-1400 m (Lorea-Hernánez, 1996).
Population Information
Um estudo na Reserva Particular do Patrimônio Natural Mata Samuel de Paula, da Mineração AngloGold, registrou 21 indivíduos distribuídos em seis localidades diferentes (Ashanti, 2009). Descrita como ocasional na região da Chapada Diamantina (Passos Júnior et al. 295).
Habitat and Ecology Information
Árvore ou arbusto terrestre entre 3-6 m de altura, ou arbusto de 1-2 m de altura; foi coletada em Cerrado, Floresta Ombrófila, Floresta Estacional, sobre murundum em área de Cerrado, e áreas de transição entre Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (Flora do Brasil, 2019).
Threats Information
Perda de habitat como consequência do desmatamento pelo desenvolvimento urbano, mineração, agricultura e pecuária representa a maior causa de redução na biodiversidade da Mata Atlântica. Estima-se que restem apenas entre 11,4% a 16% da vegetação original deste hotspot, e cerca de 42% da área florestal total é representada por fragmentos menores que 250 ha (Ribeiro et al., 2009). Os centros urbanos mais populosos do Brasil e os maiores centros industriais e de silvicultura encontram-se na área original da Mata Atlântica (CEPF, 2001). Vivem no entorno da Mata Atlântica aproximadamente 100 milhões de habitantes, os quais exercem enorme pressão sobre seus remanescentes, seja por seu espaço, seja pelos seus inúmeros recursos. Ainda que restem exíguos 7,3% de sua área original, apresenta uma das maiores biodiversidades do planeta. A ameaça de extinção de algumas espécies ocorre porque existe pressão do extrativismo predatório sobre determinadas espécies de valor econômico e também porque existe pressão sobre seus habitats, sejam, entre outros motivos, pela especulação imobiliária, seja pela centenária prática de transformar floresta em área agrícola (Simões e Lino, 2003). O forte vetor de ocupação que ocorre na porção sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte intensifica a pressão a que estão submetidos os remanescentes florestais presentes na região (Werneck et al., 2010). O Cerrado perdeu 88 Mha (46%) de sua cobertura vegetal nativa, e apenas 19,8% permanecem inalterados. Entre 2002 e 2011, as taxas de desmatamento no Cerrado (1% por ano) foram 2,5 vezes maiores que na Amazônia. A proteção atual permanece fraca. As áreas protegidas públicas cobrem apenas 7,5% do bioma (em comparação com 46% da Amazônia) e, de acordo com o Código Florestal brasileiro, apenas 20% (em comparação com 80% na Amazônia) de terras privadas são destinadas à conservação (Strassburg et al., 2017). Como resultado, 40% da vegetação natural remanescente pode agora ser legalmente convertida (Soares-Filho et al., 2014). A ocupação do Cerrado pela atividade pecuária se deu a partir da década de 1920, com a indústria de café em plena atividade. Mais tarde, com incentivos do governo federal, a atividade pecuária iniciou o processo de ocupação e conversão do Cerrado em pastagens (Klink e Moreira, 2002, Sano et al., 2008). Desde então, a pecuária passou a ocupar extensas áreas e estabeleceu-se como uma das principais atividades econômicas no país (Sano et al., 2008), recebendo cada vez mais subsídios governamentais, tais como, a criação do Conselho para o Desenvolvimento da Pecuária (Rachid et al., 2013). No início, a pecuária beneficiou-se de gramíneas nativas (Silva et al., 2015) e posteriormente o uso de tecnologias e a introdução de gramíneas exóticas para melhoramento das pastagens contribuíram para o sucesso da atividade no Cerrado (Ratter et al., 1997), sendo a região responsável por 41% do leite e 40% da carne bovina produzida no Brasil (Pereira et al., 2012). As pastagens cultivadas ocupam cerca de 26,5% do território e representam o principal uso do solo do Cerrado (Sano et al., 2008). Além dos impactos do gado sobre a vegetação nativa, a atividade pecuária está historicamente associada a queimadas realizadas para renovação da pastagem para o gado (Kolbek e Alves, 2008, Silva et al., 2015), as quais muitas vezes fogem de controle e tornam-se grandes incêndios (Verdi et al., 2015). O município de Rio de Contas (BA) com 107107 ha tem 22125 ha (21%) de seu território convertidos em pastagem (Lapig, 2019). A região de Rio das Contas, BA, onde a espécie é encontrada, tem um histórico de ocupação das terras por plantações, sendo no passado utilizada nas plantações e cacau e recentemente para o Setor Agroindustrial de polpa de frutas, incentivado pelo projeto Agropólo do Vale do Rio das Contas (Araújo et al., 2004). O município de Mucugê tem 5,9% de seu território (14705 ha) transformados em pastagem (Lapig, 2018). A Chapada Diamantina (municípios de Ibicoara, Mucugê e Abaíra) é uma importante região produtora de frutas, batatas e de um dos melhores cafés do Brasil. E foi justamente batata e café que a família do Fabiano Borré começou a cultivar décadas atrás (G1/Globo Repórter, 2016). O município de Mucugê com 246148 ha tem 13,6% de seu território (33586 ha) convertido em agricultura de cana-de-açúcar e milho (Lapig, 2019). Nos cerrados da região de Mucugê, por exemplo, as medidas de correção do solo vêm possibilitando uma agricultura em larga escala (Harley et al., 2005), além da adoção de tecnologias modernas para o uso da irrigação (MMA, 2007). Queimadas frequentes na Chapada Diamantina, no município de Mucugê (Tanan e Chaves, 2012). A exploração de diamante foi responsável pela ocupação da região da Chapada Diamantina, sendo a prática mineradora mais significativa da região, embora tenha diminuído muito nos últimos anos. Em Lençóis ainda há muitos garimpeiros artesanais que sobrevivem da exploração de diamante e em Palmeiras, embora a prática garimpeira ainda esteja ativa, é praticada em menor escala. Este tipo de mineração é inerentemente impactante para a vegetação, uma vez que altera completamente o ambiente (MMA, 2007). Alguns municípios da Bahia tiveram perda de habitat maior do que 90%, como Lençóis (92,28%), que também tem 7,8% de seu território (10086 ha) transformados em pastagem (Lapig, 2019). A atividade mineradora no município de Diamantina, Minas Gerais, já foi a principal fonte de economia da região, causando grande prejuízo ao meio ambiente (Giulietti et al., 1987).
Use and Trade Information
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.
Conservation Actions Information
A espécie foi registrada dentro dos limites das seguintes Unidades de Conservação (SNUC): Área de proteção Ambiental Cachoeira das Andorinhas, Área de proteção Ambiental Sul-RMBH, Reserva Biológica da Mata Escura, Área de proteção Ambiental Serra do Barbado, Parque Nacional da Chapada Diamantina, Área de proteção Ambiental Marimbus/Iraquara, Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça; Reserva Particular do Patrimônio Natural da Magnesita S.A., Reserva Biológica do Jambreiro. A espécie foi avaliada no Anexo I da Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção como Quase Ameaçada (NT) (MMA, 2014). A espécie ocorre em dois territórios que serão contemplados por Planos de Ação Nacional (PANs) Territoriais, no âmbito do projeto GEF pró-espécies: todos contra a extinção: Território Centro-Minas - TER10 (MG) e Território Mucugê - TER40 (BA).