Taxonomic Notes
Descrita em: Brittonia 52(1): 25–29, f. 1–3. 2000. Conhecida popularmente como Mundururu na região nordeste (Baumgratz, 2019).
Justification
Árvore de até 10 m, endêmica do Brasil (Baumgratz et al. 2019). Conhecida popularmente como Mundururu, foi documentada em Floresta Ombrófila e Restinga arbórea, associadas à Mata Atlântica, no estado da Bahia, municípios de Arataca, Cairu, Ituberá, Nilo Peçanha e Valença. Apresenta distribuição restrita, EOO=2045 km², AOO=32 km², três situações de ameaça e ocorrência exclusiva a fitofisionomias fragmentadas. As Florestas Úmidas do sul da Bahia possuem um longo histórico de exploração pelo homem. Atualmente, vastas áreas são utilizadas para a criação extensiva de gado (Mori, 1995) e estão fragmentadas como resultado da atividade humana realizadas no passado, tais como o corte madeireiro e implementação da agricultura (Paciencia e Prado, 2005; Rolim e Chiarello, 2004). O sul do Estado da Bahia é conhecido por abrigar as maiores plantações de cacau do Brasil. O sistema de cabruca foi responsável pela perda drástica de vegetação nativa na região. Mesmo ocorrendo dentro dos limites de Unidades de Conservação de proteção integral, infere-se declínio contínuo em EOO, AOO e qualidade e extensão do habitat. Assim, Huberia carvalhoi foi considerada Em Perigo (EN) de extinção novamente. Recomendam-se ações de pesquisa (localização de novas subpopulações, censo e tendências populacionais) e conservação (Plano de Ação) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois uma extinção local pode ampliar seu risco de extinção. É crescente a demanda para que se concretize o estabelecimento de um Plano de Ação Nacional (PAN) previsto para sua região de ocorrência no estado da Bahia.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Baumgratz et al. 2019), com ocorrência no estado da Bahia, municípios de Arataca (Jardim 220), Cairu (Jardim 5337), Ituberá (Guedes 24796), Nilo Peçanha (Silva 2578) e Valença (Carvalho 1135).
Population Information
Não existem dados sobre a população.
Habitat and Ecology Information
Árvores de até 10 m de altura (Jardim 5337), ocorrendo nos domínios da Mata Atlântica, na Floresta Ombrófila (= Floresta Pluvial) e na Restinga (Baumgratz et al. 2019). Ocorre em capoeiras de solo arenoso, com piaçaval, e em restingas arbóreas, primárias ou perturbadas, em altitudes de 50 a 80 m, com solo arenoso ou arenoso-argiloso, geralmente na borda ou em clareiras, onde possuem copa de formato oval, e também no interior da mata, com as copas estreitamente triangulares (Baumgratz, 2004). Ocorre em matas de restinga, primárias ou perturbadas (Baumgratz, 1997) e também em floresta ombrófila densa montana, entre 400-1000 m altitude. Ainda continua a ser uma espécie endêmica da Bahia (Baumgratz, comunicação pessoal).
Threats Information
A área relativamente grande ocupada por categorias de uso do solo como pastagem, agricultura e solo descoberto, e a pequena área relativa ocupada por floresta em estágio avançado de regeneração revelam o alto grau de fragmentação da Mata Atlântica no Sul-Sudeste da Bahia (Landau, 2003; Saatchi et al. 2001). Grande parte das florestas úmidas do sul da Bahia estão fragmentadas como resultado da atividade humana realizadas no passado, tais como o corte madeireiro e implementação da agricultura (Paciencia e Prado, 2005). Estima-se que a região tenha 30.000 ha de cobertura florestal (Paciencia e Prado, 2005), 40.000 ha em estágio inicial de regeneração e 200.000 ha em área de pasto e outras culturas, especialmente cacau, seringa, piaçava e dendê (Alger e Caldas, 1996). A maioria das propriedades particulares são fazendas de cacau, o principal produto da agricultura (Paciencia e Prado, 2005), sendo a cabruca considerada a principal categorias de uso do solo na região econômica Litoral Sul da Bahia (Landau, 2003). Nas florestas litorâneas atlânticas dos estados da Bahia e Espírito Santo, cerca de 4% da produção mundial de cacau (Theobroma cacao L.) e 75% da produção brasileira é obtida no que é chamado localmente de sistemas de cabruca. Neste tipo especial de agrossilvicultura o sub-bosque é drasticamente suprimido para dar lugar a cacaueiros e a densidade de árvores que atingem o dossel é significativamente reduzida (Rolim e Chiarello, 2004; Saatchi et al. 2001). De acordo com Rolim e Chiarello (2004). Os resultados do seu estudo mostram que a sobrevivência a longo prazo de árvores nativas sob sistemas de cabruca estão sob ameaça se as atuais práticas de manejo continuarem, principalmente devido a severas reduções na diversidade de árvores e desequilíbrios de regeneração. Tais resultados indicam que as florestas de cabrucas não são apenas menos diversificadas e densas do que as florestas secundárias ou primárias da região, mas também que apresentam uma estrutura onde espécies de árvores dos estágios sucessionais tardios estão se tornando cada vez mais raras, enquanto pioneiras e espécies secundárias estão se tornando dominantes (Rolim e Chiarello, 2004). Isso, por sua vez, resulta em uma estrutura florestal drasticamente simplificada, onde espécies secundárias são beneficiadas em detrimento de espécies primárias (Rolim e Chiarello, 2004). Dados publicados recentemente (SOS Mata Atlântica e INPE, 2018) apontam para uma redução maior que 85% da área originalmente coberta com Mata Atlântica e ecossistemas associados no Brasil. De acordo com o relatório, cerca de 12,4% de vegetação original ainda resistem. Embora a taxa de desmatamento tenha diminuído nos últimos anos, ainda está em andamento, e a qualidade e extensão de áreas florestais encontram-se em declínio contínuo há pelo menos 30 anos (SOS Mata Atlântica e INPE, 2018). No estado da Bahia foram desmatadas 1.985 ha entre 2017 e 2018 (SOS Mata Atlântica e INPE, 2019). A área do Parque Nacional da Serra das Lontras e os municípios que a circundam vivem sob intensa pressão antrópica, principalmente por desmatamentos, e é uma das mais chuvosas e úmidas da região cacaueira, onde os plantios de cacau em seu sopé foram muito afetados pela vassoura-de-bruxa (uma praga que ataca os cacaueiros) e a maioria encontra-se em estado de abandono há mais de 20 anos. Há ainda notícias do corte ilegal de madeira. Entre o período de 1986 e 2001, houve uma perda de florestas maduras ao mesmo tempo em que houve fragmentação, ou seja, os blocos de florestas ficaram menores e mais isolados, conforme se verificou com o aumento do número de fragmentos abaixo de 100 hectares. Em um período de 15 anos, houve uma perda de 20.632 hectares de florestas da região, a uma taxa de 0,8% ao ano (SAVE Brasil et al. 2009). Cairu é um dos dois únicos municípios brasileiros inteiramente arquipelágicos (o outro sendo Ilhabela - SP). Muito próximo a Salvador, é formado por 26 ilhas, dentre as quais destacam-se as localidades Morro de São Paulo e Moreré, muito conhecidas atualmente pelo turismo crescente na região (Gulberg, 2008). A partir dos anos 90, o fluxo turístico na região aumentou significativamente e de forma desordenada (Gulberg, 2008). Com uma infraestrutura que não poderia suportar a crescente demanda de períodos de alta estação, houveram graves consequências para o meio ambiente local (Gulberg, 2008). Atualmente, o aumento do turismo de massa contribuiu para o agravamento de problemas na APA, como, por exemplo: o desmatamento, a sobre-pesca, a ocupação desordenada do solo, a especulação imobiliária, a descaracterização da cultura local, a prostituição, assédios sexuais, furtos e roubos, drogas e o acúmulo do lixo (Gulberg, 2008). Segundo Silva (2002), uma preocupação é a forte erosão genética que populações naturais da espécie vêm sofrendo, principalmente por influências antrópicas causadas por empreendimentos imobiliários nos municípios com potencialidade turístico, a exemplo de Ilhéus, Valença, Itacaré e Porto Seguro. Para a região do município de Nilo Peçanha há protocolos atuais de Autorização de pesquisa para exploração de bauxita. Para a região do município de Arataca há protocolos atuais de Autorização de pesquisa para minério de ferro e exploração de Granito (DNPM, 2019).
Use and Trade Information
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.
Conservation Actions Information
Espécie avaliada como Criticamente em Perigo (CR) no Anexo I da Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (MMA, 2014). A espécie foi registrada em: Parque Nacional da Serra das Lontras (PI) e na Área de proteção Ambiental Caminhos Ecológicos da Boa Esperança (US). A espécie ocorre em um território que será contemplado por Plano de Ação Nacional (PAN) Territorial, no âmbito do projeto GEF pró-espécies: todos contra a extinção: Território Milagres - 39 (BA) e Território Itororó - 35 (BA).