Taxonomic Notes
Descrita em: Novon 10(2): 110-112. 2000. Simira gardneriana é intimamente relacionada a Simira grazielae Peixoto e Simira viridiflora (Allemão & Saldanha) Steyerm., que ocorrem em florestas úmidas na região leste do Brasil. Nomes populares: "Pereiro-de-Tinta" ou "Pereiro-Vermelho" (Barbosa and Peixoto, 2000).
Justification
Árvore de até 10 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2019). Conhecida popularmente por Pereiro-de-tinta ou Pereiro-vermelho, foi documentada em Caatinga sensu stricto na Caatinga nos estados da Bahia, Pernambuco, Piauí e Ceará. Além disso, foi documentada em áreas de Floresta Estacional na região da Serra do Amolar, no contexto do Pantanal. Apresenta distribuição ampla, constante frequência de coletas, EOO=661849 km² e presença confirmada dentro dos limites de Unidades de Conservação e em áreas onde ainda predominam na paisagem extensões significativas de vegetação pouco alterada. Apesar disso, sabe-se que a região Nordeste destacava-se pela produção de cana-de-açúcar cultivada sobre a Caatinga (Kohlhepp, 2010), assim como na atual produção de algodão (Vidal-Neto e Freire, 2013), frutas, e nas últimas décadas, soja (Sanches et al. 2005). A pecuária é uma das principais atividades de subsistência para os habitantes da Caatinga (Antongiovanni et al. 2018), e o sobrepastejo tem sido associado à compactação do solo, redução na sobrevivência de plântulas e mudas, consumo de biomassa de dossel, alteração da riqueza e composição das plantas (Marinho et al. 2016). Além disso, a sinergia entre o efeito do gado pastando em remanescentes semiáridos e a invasão de espécies exóticas tem sido relatada (Hobbs, 2001). Finalmente, Simira gardneriana é retirada de forma seletiva e utilizada em construções, vedações e forragens (Barbosa e Peixoto, 2000), o que amplia sua vulnerabilidade. A espécie é aparente rara fora do contexto da Caatinga, de onde é retirada seletivamente e sofre os efeitos das pressões supracitadas, por isso, optou-se por manter a espécie como Quase Ameaçada (NT) por potencial declínio contínuo da população, além de inferir-se reduções em AOO, no número de situações de ameaça e no número de indivíduos maduros. Sua ocorrência em áreas degradadas, caso estas não sejam controladas, acabaram por transferir a espécie para categoria de ameaça. Diante desse cenário, portanto, a espécie foi considerada Quase Ameaçada (NT) de extinção novamente. Recomendam-se ações de pesquisa (busca direcionada por subpopulações intermediária entre as subpopulações nordestinas e pantaneiras, censo e tendências populacionais) e conservação (Plano de Ação) a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois as pressões verificadas ao longo de sua distribuição podem ampliar seu risco de extinção. É crescente a demanda para que se concretize o estabelecimento de um Plano de Ação Nacional (PAN) previsto para sua região de ocorrência nos estados em que foi documentada.
Geographic Range Information
Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil, 2019), com ocorrência nos estados: Bahia, municípios de Aracatu (Jardim 5208), Bom Jesus da Lapa (Harley 21517), Campo Alegre de Lourdes (Queiroz 8023), Casa Nova (Oliveira 8056), Jaguarari (Giulietti 1790), Juazeiro (Siqueira Filho 1635), Malhada (Jardim 3424), Morro do Chapéu (Särkinen 5263), Remanso (Queiroz 7981) e Sobradinho (Lima-Verde 3120); Ceará, municípios de Aiuaba (Figueiredo 92), Campos Sales (Fernandes S/N) e Parambu (Delprete 7330); Mato Grosso do Sul, município de Corumbá (Bortolotto 1494); Pernambuco, municípios de Afrânio (Oliveira 11), Lagoa Grande (Guedes et al. 30220), Ouricuri (Silva 3099); Piauí, municípios de Caridade do Piauí (Castro 1100), Jacobina do Piauí (Castro 1106), Jaicós (Lisboa 451029), Paulistana (Fernandes 7580) e São Raimundo Nonato (Fernandes 5158). Na Flora do Brasil 2020, a ocorrência no estado do Mato Grosso do Sul ainda não foi reconhecida.
Population Information
Não existem dados populacionais disponíveis.
Habitat and Ecology Information
Árvores de até 10 m de altura ocorrendo no domínio da Caatinga stricto sensu (Flora do Brasil, 2019). Foi observado um registro no Pantanal (município de Corumbá), identificado e validado pelos especialistas, mas sem descrições mais detalhadas sobre o tipo de vegetação.
Threats Information
A Caatinga sustenta mais de 23 milhões de pessoas (11,8% da população brasileira) e é uma das regiões semiáridas mais populosas do mundo, com 26 habitantes/km² (Medeiros et al. 2012, Ribeiro et al. 2015). Novos cenários, como a transposição do rio São Francisco, podem mudar o paradigma de que a região semiárida não é apta para o desenvolvimento econômico e intensificar processos que levam a perda da diversidade florística (Costa et al. 2009). Tradicionalmente, a região Nordeste destacava-se pela produção de cana-de-açúcar cultivada sobre a Caatinga (Kohlhepp, 2010). Apesar disso, a região não apresentava bons níveis de produtividade devido as suas condições ambientais (Kohlhepp, 2010, Waldheim et al. 2006). A partir de diversos incentivos governamentais, do crescente interesse na produção de biocombustíveis (Gauder et al. 2011; Kohlhepp, 2010, Koizumi, 2014; Loarie et al. 2011) e da aplicação de novas técnicas de produção, dentre elas a irrigação e melhoramento de cultivares, o cultivo de cana-de açúcar passou a expandir sua área de cultivo (Costa et al. 2011, Ferreira-Junior et al. 2014, Loarie et al. 2011, Silva et al. 2012). Similarmente, a região destaca-se na produção de algodão (Borém et al. 2003, Vidal-Neto e Freire, 2013), frutas (Vidal e Ximenes, 2016) e, nas últimas décadas, o cultivo de soja tem expandido (Sanches et al. 2005). A pecuária é uma das principais fontes de renda e subsistência para os habitantes da Caatinga (Antongiovanni et al. 2018). Em geral, bovinos, caprinos e ovinos são criados em regime de liberdade, tendo acesso à vegetação nativa como base de sua dieta (Marinho et al. 2016). Na Caatinga e em outras regiões semiáridas, o pastejo tem sido associado à compactação do solo, redução na sobrevivência de plântulas e mudas, consumo de biomassa de dossel, alteração da riqueza e composição das plantas (Marinho et al. 2016). Além disso, a sinergia entre o efeito do gado pastando em remanescentes semiáridos e a invasão de espécies exóticas tem sido relatada (Hobbs, 2001). A pecuária é um distúrbio crônico na Caatinga que tem efeitos negativos sobre a diversidade de plantas (Ribeiro et al. 2015). O município de Bom Jesus da Lapa com 411552 ha tem 32% de seu território (134332 ha). Ocupados por pastagem (Lapig, 2018). O município de Corumbá/MS com 6493547 ha tem 13% de seu território (821057 ha) convertidos em pastagem Lapig, 2018). Atividade pecuarista em expansão no entorno dos municípios de Corumbá e Ladários causando degradação ambiental (Silva et al. 2001). Castelletti et al. (2004) modelaram os efeitos das estradas sobre a vegetação de Caatinga e adicionaram novos valores às áreas já utilizadas para agricultura e pastagem estimadas pelo IBGE. A área de Caatinga modificada obtida pelos autores variou de 223.100 km² a 379.565 km². Esses números indicam que entre 30,4% e 51,7% da área da Caatinga foi alterada por atividades antrópicas. A primeira estimativa coloca a Caatinga como o terceiro ecossistema mais degradado do Brasil, atrás da Mata Atlântica e do Cerrado. A segunda estimativa, entretanto, eleva a Caatinga para o segundo ecossistema mais degradado do Brasil, passando à frente do Cerrado. Contudo, é possível que mesmo esses valores ainda estejam subestimados, porque é difícil dimensionar a extensão da perda dos ecossistemas naturais e da flora e fauna do Nordeste brasileiro nos últimos 500 anos. Os registros históricos produzem pistas pequenas, mas dramáticas, sobre a destruição em larga escala que tem devastado a região desde 1500, e mesmo os maiores remanescentes da Caatinga têm, provavelmente, sido alterados desde os tempos pré-Colombianos (Leal et al. 2005). A extração de madeira para carvão, construção civil e uso doméstico tem sido uma ameaça generalizada à Caatinga por muitos séculos. Historicamente, árvores grandes e maduras eram altamente valiosas ao ponto de serem suprimidas a virtualmente desaparecerem da paisagem. O uso industrial das árvores da Caatinga para a produção de carvão, que é parcialmente feito de forma ilegal e descontrolada, contribui fortemente para modificar a densidade e a estrutura da vegetação remanescente (Gariglio et al. 2010). O uso de madeira e carvão para uso doméstico (por exemplo, forno a lenha) também não é desprezível, correspondendo a 30% do que é extraído anualmente (Gariglio et al. 2010).
Use and Trade Information
A madeira desta espécie é utilizada em construções, vedações e forragens (Barbosa e Peixoto, 2000).
Conservation Actions Information
A espécie consta no Anexo II da Instrução Normativa nº 6, de 23 de setembro de 2008 (MMA, 2008) sendo considerada uma espécie com Dados Insuficientes (DD) para a avaliação de risco de extinção. A espécie foi registrada na Área de proteção Ambiental Chapada do Araripe (US), Área de proteção Ambiental Lago de Sobradinho (US) e Parque Estadual do Morro do Chapéu (PI). A espécie ocorre em um território que será contemplado por Plano de Ação Nacional (PAN) Territorial, no âmbito do projeto GEF pró-espécies: todos contra a extinção : Território Cerrado Endêmicas - TER11.